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14/03/2016

Repense suas estratégias

Da valorização da pechincha à compra de produtos saudáveis, confira o que norteará o comportamento do consumidor brasileiro

Não é de hoje que as empresas têm enfrentado grandes desafios para ganhar a confiança e o bolso do consumidor. Menos dinheiro em circulação, maior grau de exigência por parte dos clientes, concorrência exacerbada, facilidade de informação na tela do smartphone e a busca cada vez maior por conveniência, praticidade e ganho de tempo são alguns dos fatores que têm transformado o ato da compra em um exercício cada vez mais valioso (e cobiçado). Em São Paulo, Paris, Nova York ou Singapura a pergunta é a mesma: o que atrai o consumidor hoje?

Foto Repense suas Estrategias.jpg

A resposta é o objeto de estudo de vários institutos de pesquisa, que analisam o comportamento de compra dos consumidores ao redor do mundo e apontam as principais tendências que nortearão o universo do varejo ano a ano. Algumas atravessam a barreira do tempo, como o uso da tecnologia para facilitar a rotina diária, a comparação de preços, a oferta cada vez mais personalizada de produtos e serviços. Outras parecem extremamente futuristas em um primeiro momento, como a internet das coisas, cujas plataformas aplicadas diretamente no corpo, a fim de monitorar a saúde e o bem-estar, deverão se transformar nos novos dispositivos vestíveis em breve.

Parece coisa de filme de ficção? Claro que não, um ensaio aqui, outro acolá, já demonstram que isso já é realidade para alegria de 87% dos paulistanos que participaram do estudo feito pelo ConsumerLab, área da Ericsson, que há 20 anos estuda o comportamento dos usuários. Todos revelaram que gostariam de usar a tecnologia para melhorar percepções sensoriais e habilidades cognitivas como a visão, a memória e a audição.


"Em 2016, o consumo será marcado por uma mistura de tendências, que está desafiando as formas de viver e de comprar." 

De acordo com o relatório Top10 Global Consumer Trends for 2016, da Euromonitor Internacional, 


Globalmente, segundo o estudo, um dos movimentos mais fortes é o dos compradores agnósticos, que são a síntese do cliente contraditório do momento. Envolvidos pela situação econômica, hiper informados, zelosos com as compras e com as múltiplas oportunidades para comparar preços, estão menos preocupados com rótulos e marcas.

"Esse grupo passeia entre lojas e produtos em busca de valor e novidades, transformando-se em um grande desafio para as marcas que querem se conectar com eles ou buscam sua lealdade", afirma a autora do Consumer Trends, Daphne Kasriel Alexander. "Os agnósticos estão divididos entre o desejo de serem econômicos e ao mesmo tempo terem o prazer de gastar em produtos que os inspiram", diz.

Outra tendência apontada pela Euromonitor que já mostra sinais de crescimento contínuo, apesar da crise econômica, é a do consumo de produtos mais naturais. O Brasil é o quarto maior mercado mundial de alimentos saudáveis e orgânicos, um segmento que cresceu 98% em cinco anos, contra 67% da demanda por alimentos tradicionais no mesmo período, movimentando US$ 35 bilhões no País. Os especialistas insistem em afirmar que, diferentemente das dietas da moda, a alimentação saudável é uma tendência irreversível, porque está enraizada em uma mudança de comportamento mais profunda, que inclui a preocupação com a longevidade e também uma nova forma de se relacionar com o meio ambiente.

 

Pechinchar não é pecado

Com o bolso mais enxuto a tendência é que o brasileiro racionalize mais suas compras, o que implicará em menos visitas aos pontos-de-venda, e de menos produtos dentro do carrinho. "De janeiro a setembro de 2015, a compra de produtos de higiene pessoal, bebida, produtos de limpeza e alimentação caiu 8% em volume, mas não em valores já que os preços dispararam com a inflação", afirma a diretora de marketing e treinamento da Kantar, Maria Andrea Ferreira Murat.

Segunda ela, a busca por promoções cresceu no mesmo período com tendência a aumentar ainda mais em 2016. De acordo com o levantamento da Kantar, no primeiro semestre de 2014, os alimentos comprados na promoção equivaliam a 13,2%, volume que saltou para 16% no mesmo período de 2015. O mesmo aconteceu com higiene pessoal, de 13% para 15%; limpeza, de 8% para 10% e bebidas de 7% para 9%. Também cresceram os combos, os packs que criam vantagem oferecendo três produtos pelo preço de dois.

"O desafio está em colocar mais coisas dentro da cesta de consumo por menos", adverte o diretor da consultoria Inteligência de Varejo, Olegário Araújo. "Passamos mais de uma década experimentando coisas novas, viajando, agora fica difícil deixar para trás o que já se vivenciou. Assim, a tendência é termos um ano de eterna busca pela pechincha. Com certeza, continuará a sede do mais por menos."

E Araújo tem razão. Uma das principais tendências de consumo apontadas pela Mintel, empresa especializada em pesquisa de mercado, é a batizada de 'Heróis da Pechincha'. Segundo o estudo "Brasil 16", os consumidores brasileiros já sofreram com o aumento da inflação e, por conta disso, estão explorando modelos de compra alternativos como compartilhamento, aluguel e troca. "Em 2016, essas alternativas aos modelos de compra tradicionais permitirão que os consumidores continuem a usufruir de novos produtos e serviços, sem a necessidade de gastar muito dinheiro", declara a analista de tendências da Mintel, Graciana Méndez.

Essa nova abordagem, segundo a especialista, mudou o significado de propriedade e oferece o acesso a produtos e experiências dentro de um orçamento mais favorável. O mercado já percebeu a mudança e começou a se adaptar. Um bom exemplo é a varejista on-line brasileira Dress & Go, que aluga vestidos de grifes de luxo a preços que cabem no bolso. E para surpresa de muitos, já está com obras aceleradas, em São Paulo (SP), o primeiro empreendimento Home & Share do Brasil, o Santa Cecília Smart Home. O edifício, com entrega prevista para 2017, foi criado com a proposta de encorajar o compartilhamento entre os moradores, já que oferecerá carros e bicicletas em co-propriedade, bem como espaço para trabalho em conjunto e apartamentos totalmente mobiliados para convidados.

 

Escolha racional

Outra tendência forte, segundo o levantamento da Mintel, é a Sede por Mais, que permeia a economia pelo viés da sustentabilidade. "Em 2016, nós veremos tanto indivíduos quanto empresas continuarem a explorar novas maneiras de economizar através da sustentabilidade e de práticas ecológicas", afirma Graciana. "Mas, para que isso realmente aconteça, os benefícios pessoais das alternativas ecológicas têm de estar bem claros." Um bom exemplo disso é o trabalho desenvolvido pela start up brasileira Porto leve, que oferece aos moradores de Recife (PE) um serviço de compartilhamento de carros elétricos por uma mensalidade de R$ 30.

  Muitos brasileiros também já reciclam lixo em troca de descontos em suas contas de energia e, desde outubro de 2015, já é possível trocar garrafas e latas por descontos nas máquinas de refrigerantes operadas pela Triciclo, conforme destaca o levantamento da Mintel.

    "Trata-se de um processo de enxugamento, de comprar na medida do desejo, mas não desperdiçar. É a chamada compra racional", afirma o professor de gestão de varejo da FAAP, Amnon Arnoni. "Muitos desses novos hábitos irão permanecer, mesmo quando a economia voltar a crescer, porque se aprende muito nos momentos de dificuldade".

Embora o peso econômico seja forte e supere o desejo de consumo típico do brasileiro, as tendências existem e não podem ser ignoradas, adverte o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, Eduardo Terra. "Será cada vez maior a participação do neoconsumidor digital, que tem a vida inserida na tecnologia; a força da sustentabilidade que impacta nas embalagens e na forma de se comunicar com o consumidor e a relação que as novas gerações têm com o consumo, mais especificamente com o automóvel", afirma.

 

Para colocar em prática

Conheça as principais tendências de consumo para o mercado brasileiro em 2016 apontadas pela Mintel:

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Por Katia Simões